O jovem, a bebida e a velocidade: uma combinação inoportuna


24/05/2015 às 23h40
Por Paulo Moleta

Uma pesquisa realizada pelo Observatório Nacional de Segurança Viária, por encomenda da revista Veja, demonstrou que, no Brasil, ao contrário de outros países, como China, Alemanha e Austrália, é mais perigoso ser vítima de trânsito que de homicídio ou câncer. Em número, isso se traduziria em 60 mil mortos e 352 mil casos de invalidez permanentes no ano de 2012. Mas porque o Brasil é o país que mais mata no trânsito? Quais são as causa as principais causas de acidentes com vítimas fatais?

A embriaguez e o excesso de velocidade são, por óbvio, as maiores causas de acidentes de trânsito com resultado morte, vejamos.

A embriaguez é responsável por grande parte dos acidentes de trânsito. Mas porque as pessoas ainda insistem em beber e dirigir e consequentemente correr o risco de produzir ou ser vítimas de uma fatalidade?

A primeira desculpa é a falta de fiscalização, e com razão, basta bordejar por qualquer cidade em horário conveniente que raramente veremos uma blitz.

Atualmente a segunda é uma mistura do valor do taxi com a realidade social. A maioria dos condutores que possuem veículos afirmam, sucessivamente, ser mais econômico utilizar o próprio carro para se deslocar, mesmo correndo os riscos causados pela embriaguez.

Normalmente os jovens saem de casa pensando em não beber, mas quando encontram os amigos, a ingestão é praticamente inevitável, e se não bebem, taxam-lhe de antissocial. Contudo esquecem que o taxi não é um gasto, mas sim um investimento para salvaguardar a própria vida. Além disso, a presença já é marco de socialização, não é necessário ingerir bebida alcoólica.

A tecnologia, por sua vez, é grande aliada dos infratores que bebem e dirigem. A criação de aplicativos para smartphones que avisam outros usuários onde existe a fiscalização policial é uma ferramenta bastante utilizada.

Enfim, nas condições atuais, é humanamente impossível alcançarmos uma fiscalização ideal. A tendência brasileira é banalizar o crime, as pessoas continuarão bebendo e dirigindo. Mas até que ponto a bebida pode influenciar em um acidente de trânsito para causar uma fatalidade?

Ao ingerirmos bebidas alcoólicas, inicialmente sentimos o efeito relaxante, que desaparece com o aumento do consumo. De acordo com a química cerebral de cada um o álcool pode causar sonolência ou bastante agressividade. Em casos de intoxicação cerebral podem existir apagamentos ou blackouts fazendo com que a probabilidade de ocorrer um infortúnio no trânsito seja gigante. (RONALDO LARANJEIRA)

Ao colocar-se na frente do volante o motorista ignora os perigos, subestima as dificuldades, percebe tarde demais os riscos, perde noção da velocidade e principalmente da distância, esquece que o álcool dá impressão que dirigimos melhor embriagados, emprega velocidade maior que de costume, perde o campo de visão, reação e percepção. (DOTTA, 2002).

Certamente a capacidade psicomotora de cada pessoa é alterada em razão da influência de álcool dependendo de diversos fatores. É difícil aferir se bebendo apenas uma taça de vinho o agente esteja incapaz de conduzir um veículo com segurança. Por isso o legislador acertou na proibição completa, para evitar o abuso dos motoristas. Porém, como já dissemos, não adianta existir grande repressão se há pouca fiscalização, pois a tendência é descumprir a regra. A orientação é sempre no mesmo sentido, se beber, não dirija.

Um exemplo são os jovens, quando atingem a maioridade, se sentem donos do mundo. Com a primeira habilitação e passe livre em todos os lugares permitidos apenas para maiores de 18 anos, o exagero do álcool é inevitável. O perigo surge nesse momento, porque mesmo completamente embriagado o sujeito imagina que possui completo discernimento para dirigir, ignorando a possibilidade de causar uma grande tragédia.

Por outro lado, o excesso de velocidade é um problema constante no dia a dia. É praticamente impossível encontrar alguém que nunca tenha excedido o limite de velocidade. Esta prática, pelo menos em Curitiba, tende a diminuir pela seguinte razão.

A Setran - Secretaria Municipal de Trânsito do Município começou a utilizar, no dia 16 de outubro de 2014, radares estáticos para fiscalizar a velocidade dos veículos nas principais vias da capital. Uma pesquisa realizada no mês de agosto do mesmo ano serviu de mola propulsora para o início dessa atividade, pois constatou que 42,6% dos motoristas ultrapassam o limite de velocidade permitido nas vias da cidade.[1]

A secretária municipal de trânsito, Luiza Siminelli, demonstrou a preocupação afirmando que

"A fiscalização da velocidade nas ruas é atribuição da Setran e é muito solicitada pela população curitibana. Porém, há aqueles que não obedecem e nem se sujeitam às normas de trânsito, colocando em risco todas as pessoas na cidade. Precisamos urgentemente mudar este quadro para evitarmos as mortes e os acidentes no trânsito de Curitiba”,

A questão de ultrapassar o limite de velocidade é uma cultura que deve ser completamente alterada. Vejamos o que disse Cassiano Novo, Diretor da Escola Pública de Trânsito da Setran, comandante do exame realizado no mês de agosto.

"A pesquisa apenas constatou o que já verificávamos em Curitiba: muitos condutores excedem a velocidade permitida em diversos pontos da cidade. Precisamos mudar esse hábito, pois a violência no trânsito se tornou uma questão de saúde pública, provocando a ocupação de muitos leitos de UTI, trazendo custos elevadíssimos e consequências desastrosas para as famílias que se envolvem em colisões de trânsito. Um minuto ou uma hora de ganho de tempo no trânsito não valem uma vida. O risco assumido é desproporcional"

E ai? Vai continuar bebendo e dirigindo?

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  • jovens
  • bebida
  • excesso de velocidade
  • Art. 302 do CTB
  • Art. 306 do CTB
  • Código de Trânsito Brasileiro
  • Vida

Referências

http://www.setran.curitiba.pr.gov.br/noticias/34442


Paulo Moleta

Bacharel em Direito - Curitiba, PR


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