Lavagem de Dinheiro: A Complexidade e os obstáculos práticos enfrentados em Investigações envolvendo Criptoativos


28/08/2023 às 20h40
Por David Vinicius do Nascimento Maranhão Peixoto

Introdução

À medida que o mundo abraça a era digital, as criptomoedas surgem como um instrumento financeiro revolucionário, oferecendo transações descentralizadas e sem fronteiras. No entanto, esse cenário inovador não tem sido imune a atividades ilícitas, como a lavagem de dinheiro.O anonimato e a pseudonimidade inerentes às transações criptográficas apresentam desafios para as agências de aplicação da lei ao identificar e capturar os perpetradores da lavagem de dinheiro.

Neste artigo, exploramos os conceitos críticos que envolvem investigações relacionadas a criptoativos e as dificuldades enfrentadas ao desmascarar essa prática, o que, invariavelmente, impõe a absolvição dos acusados na grande maioria dos casos. 

 

Conceitos Importantes

 

1. Criptoativos: Também conhecidas como criptomoedas, essas moedas digitais utilizam a tecnologia blockchain para permitir transações seguras entre pares, sem a necessidade de intermediários.

 

2. Lavagem de Dinheiro: O processo de disfarçar a origem de fundos obtidos ilegalmente para fazê-los parecer legítimos, tornando difícil para as autoridades rastrearem o dinheiro até sua fonte ilegal.

 

3. Pseudonimato: Embora as transações de criptomoedas sejam registradas em um livro razão público (blockchain), os usuários podem realizar transações usando endereços criptográficos em vez de informações pessoais, oferecendo um certo nível de anonimato.

 

4. Anonimato vs. Privacidade: O anonimato esconde a identidade dos usuários, enquanto a privacidade garante que informações sensíveis não sejam facilmente acessíveis a todos. As criptomoedas oferecem recursos de privacidade, mas não são totalmente anônimas.

 

Casos Relevantes

Inclusive, no brasil já foram identificados diversos crimes praticados com criptomoedas no Brasil. Alguns exemplos incluem:

 

1. Golpes de pirâmide financeira: Foram identificados esquemas fraudulentos de pirâmide financeira que envolviam criptomoedas, onde os promotores prometiam altos retornos de investimento, mas, na realidade, operavam um esquema insustentável e lesivo aos investidores.

 

2. Ransomware: Empresas brasileiras foram alvo de ataques de ransomware, em que os criminosos exigiam pagamentos em criptomoedas para liberar sistemas ou dados que foram sequestrados por meio de malware.

 

3. Vendas ilegais e tráfico de drogas: Houve relatos de indivíduos usando criptomoedas para facilitar vendas ilegais de drogas e outros produtos ilícitos em mercados online da darknet.

 

4. Lavagem de dinheiro: Embora não haja casos de grande repercussão citados publicamente até o momento, é possível que tenham ocorrido atividades de lavagem de dinheiro usando criptomoedas no Brasil.

 

Atualmente vale apena citar os seguintes casos relevantes de fraudes envolvendo criptomoedas que ganharam destaque nacional:

 

O caso da Unick Forex e do Grupo Bitcoin Banco são dois exemplos de esquemas fraudulentos que prometiam ganhos financeiros extraordinários com criptomoedas, mas acabaram colapsando e causando prejuízos significativos para milhares de pessoas.

 

A Unick Forex operava sob a promessa irreal de retornos diários entre 1,5% e 3%, enquanto o Grupo Bitcoin Banco também oferecia ganhos fixos. Ambos os esquemas atraíram investidores com a promessa de lucros rápidos e garantidos, levando algumas pessoas a venderem bens como apartamentos para investir.

 

Contudo, a realidade era bem diferente, e esses esquemas se revelaram fraudulentos. Os líderes por trás dessas operações, Leidimar Bernardo Lopes e Claudio Oliveira (Rei do bitcoin), respectivamente, foram condenados por estelionato e crimes contra o sistema financeiro. As fraudes causaram enormes prejuízos para os investidores, com estimativas de perdas de bilhões de reais.

 

Esses casos ilustram os riscos associados ao investimento em esquemas financeiros que prometem retornos exorbitantes e rápidos, especialmente quando envolvem criptomoedas. É fundamental que os investidores estejam cientes dos perigos potenciais e realizem pesquisas adequadas antes de investir seu dinheiro em qualquer projeto ou empresa. Além disso, as autoridades continuam trabalhando para combater tais fraudes e proteger os investidores contra esquemas ilegítimos envolvendo criptomoedas.

 

A negociação de criptoativos no Brasil, por si só, não constitui crime 

 

Sobre o tema, segundo o STJ a operação envolvendo compra ou venda de criptomoedas não encontra regulação no ordenamento jurídico vigente no Brasil, pois as moedas virtuais não são tidas pelo Banco Central do Brasil (BCB) como moeda, nem são consideradas como valor mobiliário pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de modo que negociação, por si só, não caracteriza crime contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei n° 7.492/86) ou crime contra o Mercado de Capitais (Lei n° 6.385/76), podendo os criptoativos, no entanto, serem usados na como instrumento dos crimes previstos na Lei 9.613.

 

Quais são as dificuldades práticas que as autoridades enfrentam para identificar os responsáveis pela Lavagem de Dinheiro com criptoativos?

 

1. Transações Pseudônimas: As criptomoedas permitem que os usuários criem múltiplos endereços, dificultando a vinculação das transações a indivíduos específicos.

 

2. Transações Transfronteiriças: A natureza descentralizada das criptomoedas permite transações transfronteiriças sem depender dos sistemas bancários tradicionais, o que complica investigações internacionais.

 

3. Misturadores e Embaralhadores: Esses serviços ocultam a origem dos fundos combinando transações de várias fontes, tornando a trilha do dinheiro ainda mais complicada.

 

4. Exchanges de Criptomoedas: Com milhares de exchanges em todo o mundo, cada uma com suas políticas de conhecimento do cliente (KYC), identificar a identidade real por trás de uma carteira específica pode ser árduo.

 

Questões relevantes enfrentadas pelas autoridades nesse tipo de crime:

 

1. Direitos de Privacidade: Indivíduos podem alegar que seu direito à privacidade financeira é protegido, argumentando que as criptomoedas oferecem pseudonimato para proteger as informações sensíveis dos usuários.

 

2. Falta de Controle: Alguns podem afirmar que não tinham conhecimento da origem ilícita dos fundos, citando a natureza descentralizada das criptomoedas e a falta de controle sobre as transações de terceiros.

 

3. Desconhecimento Tecnológico: Os réus podem alegar desconhecimento em relação às complexidades das transações criptográficas e insistir que não tinham conhecimento de possíveis atividades de lavagem de dinheiro.

 

4. incompetência do juízo: muitas vezes, nesse tipo de investigação, as medidas investigativas mais evasivas, tais como: quebra de sigilo bancário, interceptação telefônica, quebra de sigilo telemático, buscas e apreensões são autorizados por juízes que não possuem competência, justamente por tratarem a mera utilização de criptoativos como uma conduta criminosa, o que, por consequência, pode culminar na anulação de grande parte do caderno probatório e na consequente absolvição dos acusados por ausência de justa causa.   

 

Conclusão

 

As investigações que envolvem criptoativos e perpetradores de lavagem de dinheiro são um cenário complexo e em constante evolução. Enquanto as agências de aplicação da lei continuam desenvolvendo ferramentas e técnicas sofisticadas para rastrear transações ilícitas, o ecossistema criptográfico em constante mudança exige uma adaptação constante. À medida que as criptomoedas ganham aceitação global, encontrar um equilíbrio entre a privacidade financeira e a necessidade de combater a lavagem de dinheiro permanece um desafio significativo para as autoridades reguladoras em todo o mundo.

Além disso, diante da complexidade do cenário criptográfico e das intricadas táticas de lavagem de dinheiro, é essencial que pessoas sob investigação ou suspeitas de envolvimento em atividades ilegais relacionadas a criptoativos contem com uma defesa jurídica especializada nessa área. Um advogado com conhecimento profundo em criptomoedas e suas nuances pode fornecer orientação precisa sobre as questões técnicas envolvidas, identificar possíveis lacunas na investigação e garantir que os direitos fundamentais dos acusados sejam preservados. A busca pela verdade e justiça em casos de lavagem de dinheiro por meio de criptomoedas requer uma abordagem legal sólida e atualizada e a colaboração com profissionais experientes nesse campo é fundamental para garantir um processo justo e eficaz.

Em caso de dúvidas, entre em contato com o Escritório Nascimento & Peixoto Advogados pelo e-mail [email protected] ou acesse nosso site. 

Por David Vinicius do Nascimento Maranhão, advogado atuante no tribunal do júri de Brasília-DF, pós-graduado em ciências criminais.  

Contato profissional (61) 99426-7511.

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