O sentimento de justiça é inato no ser humano. Ele decorre de uma situação que gera desconforto, ao ver alguém ou a si mesmo prejudicado por uma ação desproporcional, ilegal ou imoral de outrem.
Ser justo por alguém exige coragem, pois nem sempre a defesa do outro é compreendida nos termos em que executada. Ela também enfrenta a medida de justiça de quem pode ter sofrido injustiça. É assim na advocacia de presos condenados e imputados, mas também no cotidiano familiar e profissional.
O orgulho, a vaidade, também concorrem para um injusto. Condena-se pessoas também por comportamentos corretos e esperados, mas mal interpretados, desconduzidos, mal orientados. E quanto mais alta a hierarquia, mais puzilânime e cruel parece o ser-humano em dragar valores universais e esquecê-los no julgamento do próximo. Quanto mais baixo na hierarquia humana, especialmente a profissional que tanto abstrai a igualdade prometida em qualquer ordenamento jurídico, mais sujeito aos desmandos de superiores na escala terrena.
Este mecanismo, não se ignora, traduz-se, na medida de possibilidade no atual estágio evolutivo da humanidade. A tecnologia, se bem calibrada, resolverá muitos dos erros de julgamento, aproximará a proporção querida entre vereditos de condutas semelhantes, se não substituindo o juiz togado o auxiliando no acerto. Mas e nas relações humanas? A estas o comedimento, a prudência, a paciência, alguns valores de contenção, bem como a reflexão ---um tempo de reflexão capaz de evitar a explosão emocional, ainda imperam como parâmetros de uma boa justiça. A falta de paz não é boa companheira de um decreto justo. O equilíbrio emocional constitui aliás pré-requisito para o equilíbrio na manifestação valorativa, não apenas interna, no pensamento, mas externada por palavras, atos e julgamentos.
De certa forma, esta auto-contenção exprime o amor a todo ser vivente que no fundo não se distingue de nós.