O fato é apenas um: A mulher que não se encaixa no padrão imposto pela sociedade patriarcal é desqualificada e hostilizada, independente da sua capacidade intelectual, e esse ato desencadeia consequências prejudiciais, como a cultura do estupro, que traz a percepção de que as mulheres não passam de meios para satisfação sexual do homem, dando abertura para que ele se sinta como “dono” do corpo e das ações da mulher, impondo o que deseja por meio da violência. (CERQUEIRA, Daniel; COELHO, Danilo de Santa Cruz, 2014). Nesse contexto, podemos afirmar que a objetificação feminina isola o pensamento que a cultura arcaica e machista possui de que o corpo da mulher é um bem existente em prol da sua satisfação pessoal, dando margem para futuras agressões, sejam elas psicológicas, verbais ou físicas.
As propagandas nos meios de comunicação estão presentes no nosso dia-a-dia, nos influenciando mesmo que de forma minuciosa. Elas possuem um papel de suma importância na sociedade, visto que ao comprarmos um produto estamos comprando também a ideia que ele propaga.
Há muito tempo que a sociedade usufrui do corpo da mulher a fim de que sua imagem seja utilizada como referência para padrão beleza e posteriores estereótipos, dando abertura para uma consequente comercialização completamente voltada para atender os fetiches masculinos, que transmite a ideia de que a mulher é submissa ao gênero oposto. (BEAUVOIR, Simone, 1970)
No ano de 2012, a marca de anti-transpirante “Axe” foi desagradável ao produzir um anuncio onde seu slogan era: “Acumule mulheres”, e na imagem de seu cartaz publicitário um único homem se encontra cercado de mulheres com roupas de praia, transmitindo a ideia de que os corpos destas mulheres em questão, viriam como brinde para o homem que usufruísse do produto à venda.
Levando em consideração que, desde novas, as mulheres já aprendem que seus corpos são objetos em avaliação constante, elas passam tratarem a si mesmas como objetos que devem ser ponderados de acordo com sua aparência, em termos de valor e atratividade para os outros ao invés de seu valor e função para o si mesmas, um processo que foi chamado de auto-objetificação. (Calogero et al., 2011; Fredrickson et al, 2011; Noll & Fredrickson, 1998; Fredrickson & Roberts, 1997; McKinley & Hyde, 1996; Moradi & Huang, 2008).
A auto-objetificação é um método de controle social onde as mulheres devem investir sua sanidade mental e seus recursos na tentativa de se enquadrar em um padrão de beleza quase inalcançável, cheio de de exigências e características contraditórias, que demandam que o corpo feminino seja excessivamente magro, mas com curvas, seios bem desenvolvidos, cintura fina, pernas longas e pele impecável, entre outras tantas exigências monstruosas (Berger, 2006; Groesz, Levine & Murnen, 2002; Harrison, 2003; Hirata, 2009), ao mesmo tempo em que coloca a gordura corporal como repulsiva (Levine & Harrison, 2009).
Através dos fatos aqui expostos, é notória a presença da desigualdade de gênero nas práticas sociais cotidianas. Logo, pode-se constatar que os publicitários, independente se em formação ou não, devem acrescentar em suas vidas esta reflexão, contribuindo para futuras melhorias nesse quesito, e em seu próprio ambiente de trabalho.
De fato, deve-se ter cautela com assunto em questão, e muitos tabus devem ser quebrados. Mas os primeiros passos podem ser dados a partir do momento em que, não só os homens, mas as mulheres também passarem a ver sua figura como seres completos e autossuficientes, altamente capazes de fornecer vida, cultura, ciência entre outros feitos. Ao dialogar sobre o assunto, fortalece-se a causa, diminuindo a probabilidade de que as mulheres sejam submetidas a qualquer tipo de violência.